LUCIANO FRAGA à porta da sua antiga Mercearia,
nos Fetais-Piedade, Ilha do Pico
Encontrava-me na minha mercearia no lugar dos Fetais, freguesia da Piedade na ilha do Pico, quando chegou à mesma, a Sra. Maria da Tela (nome fictício).
Alegremente fez as suas comprinhas e eu já a magicar a “partida” que lhe iria “pregar”.
Disse-lhe: “-Isto está muito mau! S. Miguel entrou em guerra com a Terceira.”
Alarmada, ela começou a gritar e disse: “-Ai Meu Deus! Isso é muito perto da nossa ilha do Pico…!”
Parecendo assustado, disse-lhe: “-Oh Senhora! Não se sabe quanto tempo durará a guerra mas tenho uma folha de papel de 35 linhas, um abaixo-assinado para as pessoas assinarem para ver se paramos com a guerra…! A Sra. Maria devia assiná-lo também…”
Ela disse que não sabia escrever senão até o assinava naquele momento.
Mas, também estava na minha mercearia o Sr. Samuel do Alfredo, que apercebendo-se da brincadeira e disse à Sra. Maria da Tela que assinava por ela…
Ela consentiu e depois saiu da mercearia a gritar…
Estava o Sr. António Alves a trabalhar na sua oficina ali perto e vendo-a tão alarmada, perguntou-lhe o que se passava.
Ela pediu-lhe para entrar na oficina mas ele não consentiu por ela estar naquele estado. Mostrou-lhe uma foice e um machado e disse-lhe que estava preparado para enfrentar a guerra caso aparecessem por lá. Claro, que ele sabia que se tratava de uma mentira…
Ela seguiu o seu caminho, sempre a gritar assustadoramente e dizia: “-Ai, o meu filho que está em S. Miguel, já deve andar na guerra. Ai, Jesus!”
Todos os que passavam por ela, diziam-lhe que se a guerra chegasse ao Pico, que morreria a população toda (participaram todos da brincadeira).
No mesmo dia, transtornada com a possível invasão militar na ilha do Pico, passou novamente na minha mercearia, fui com ela ao portão do Sr. Samuel (de onde conseguíamos ver a ponta do Topo, na Ilha de S. Jorge), avistei um barco e disse-lhe: ”-Ai, Sra. Maria! Aquele já é um barco de guerra que vem para cá! Estamos desgraçados, vamos também entrar na guerra! Não vai escapar ninguém!”. Também se conseguia ver uma fogueira na ponta do Topo e disse-lhe que já tinham bombardeado a ilha de S. Jorge… Ela ficou ainda mais assustada…
Disse-lhe que o melhor sitio para escaparmos à guerra, seria irmos todos para o farol da Manhenha pois lá tinham todo o armamento para enfrentar a grande guerra que iríamos atravessar…
Ficou ainda mais aterrorizada e apressadamente foi para casa contar tudo ao marido.
Este acreditou na história toda e foram para o farol da Manhenha para ver se escapavam da guerra.
Na Manhenha, quando lá chegaram, falaram com algumas pessoas, mas como toda a gente já sabia da brincadeira e para se livrarem deles disseram-lhes que isso não era verdade.
Desconsolados, lá foram para casa pois a guerra não tinha começado e muito menos acabado…
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